Na madrugada do dia 10 de janeiro, durante minhas férias em Minas Gerais, meu cunhado acordou com um rato andando nas costas dele. Deu um chute no rato, e voltou a dormir. Eu acordei às 6 da manhã com um ruído perto da minha cabeça. Achei que era ruído de rato roendo alguma coisa, mas na verdade era a respiração forte do rato ferido. Só mudei de cama e não fiz nada. Mataram o bicho algumas horas depois.
Quando isso acontece, podem ter certeza que não é comportamento normal de rato. Ratos são muito inteligentes e evitam proximidade com predadores. As adaptações desses roedores para escapar de predadores são tão profundas que quando um rato aprende um novo cheiro ameaçador, a aversão a esse novo cheiro pode passar para as próximas duas gerações através de marcações epigenéticas ( http://www.nature.com/neuro/journal/v17/n1/full/nn.3603.html ).
O que, então, pode fazer um rato perder o medo e se arriscar andando nas costas do meu cunhado? Lavagem cerebral! Feita por um parasita, o protozoário Toxoplasma gondii. Esse parasita altera o cérebro dos ratos e faz com que percam o medo dos predadores e até se ofereçam para eles. Por quê? Porque assim os protozoários podem infectar os predadores também. O comportamento suicida do rato é uma adaptação de seu parasita, um produto da seleção natural que permite que o protozoário tenha mais sucesso em se reproduzir e sobreviver.
As alterações que o Toxoplasma faz nos cérebros dos ratos são definitivas: mesmo após um tratamento que mata os parasitas, o cérebro e o comportamento dos ratos parasitados permanecem alterados. ( http://www.huffingtonpost.com/2013/09/19/mice-fear-cats-infection-parasite_n_3953158.html ) É possível também que o Toxoplasma, ao infectar humanos, esteja associado a alguns transtornos psiquiátricos ( http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1560245/ ). E isso, apesar de assustador, não é tão surpreendente assim, pois nós compartilhamos muitas semelhanças com seus roedores hospedeiros intermediários. Não somos imunes a sermos vítimas da lavagem cerebral dos parasitas.
E eu acho tudo isso muito lindo.
(P.S.: Apesar de eu ter usado apenas o nome “rato”, enquanto o espécime que me despertou provavelmente era do gênero Rattus, os experimentos laboratoriais citados são feitos com camundongos, do gênero Mus. Mas “camundongo” não é muito usado coloquialmente.)
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Toda a glória do ciclo de vida do Toxoplasma. |